“Sem sentido de orientação. No carro perco-me com a música, com a conversa, com a chuva. O cinza profundo das nuvens perturba-me, é-me mesmo importante. Crio-lhe uma história, penso-lhe um futuro, arranjo-lhe um raio de sol. Quando dou pelo caminho, estacionei…
Gabriela Relvas
O ÚLTIMO LIVRO
Gula de uma rapariga esquelética de amor
“Ninguém nos prepara para isto, nem o Júlio calado, nem as lágrimas da Cristina, nem a Odete nua no whisky, nem a sola de madeira no osso, as coisas que nos espantam pouco nos imunizam.
É como se viver fosse uma prescrição para pessoas mal preparadas, as bem preparadas não as conheço, serão almas que já aqui andaram e que agora nos veem e troçam de nós de perna cruzada no sofá enquanto passamos o chão a esfregona, fantasmas que penetram a parede da sala para dar à cozinha, abrem a porta do frigorífico e riem da marmelada que não solidificou, cacarejam ao ver o cu de quem metemos na cama, que do nosso já não conseguem rir, e bocejam esta frase pronta a causar dano, Ao que tu chegaste. Aquela noite veio a revelar-se na minha mais incompreensível inaptidão.”